Cafés femininos: a força das mulheres levada do campo para xícaras de todo o mundo
Female coffee participation: The strength of women taken from the field to coffee cups all over the world
Cafés femininos: a força das mulheres levada do campo para xícaras de todo o mundo
Nos últimos anos, as mulheres estão ocupando funções de destaque na produção agrícola brasileira. De acordo com o último Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 40 mil estabelecimentos agrícolas brasileiros com produção de café são dirigidos por mulheres. Entretanto, esse número equivale a apenas 13,2% dos 304,5 mil existentes.
Além das dirigentes, há também aquelas que estão na condição de cônjuge em codireção, sendo 32.400 mulheres em estabelecimentos com café arábica e 15.700 mulheres em estabelecimentos com café robusta. Dessa forma, pode-se afirmar que há um público feminino de mais de 88 mil mulheres dirigindo e codirigindo estabelecimentos com café em todo o Brasil.
E elas estão se destacando também no comando de projetos importantes em cooperativas e associações de cafeicultores, como é o caso de Daiana Pinto Souza Carrari, 30 anos, cooperada da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (CAFESUL), que fica em Muqui, no Sul do Espírito Santo. Ela ficou com a 3ª colocação no 5º Torneio do Melhor Café Fairtrade do Brasil– Golden Cup, na categoria Robusta.
“Café especial para mim representa qualidade de vida. O café especial muda tudo. O café é um alimento, é um fruto, e você tem que tratar ele com todo o carinho e com todo o amor”, destacou. Daiane conta que em 2018 a família dela começou a participar de concursos de qualidade da cooperativa, e foi quando ela e a sogra passaram a fazer parte do grupo de mulheres, que atualmente possui uma marca própria de café, o “Póde Mulheres”.
“Naquele ano, conquistamos o primeiro lugar no concurso de qualidade, e isso foi uma motivação. Por meio do grupo, participamos de cursos, aprendemos muito sobre a cafeicultura e nos aperfeiçoamos cada vez mais. Começamos com 15 mulheres, e hoje são mais de 25. O que a nossa família não sabia, aprendemos com o suporte da cooperativa”, afirmou.
Natércia Bueno Vencioneck Rodrigues, que é gerente administrativa e agente de desenvolvimento humano da Cafesul, explica o objetivo da criação – em 2014 – do grupo de mulheres. Além de incentivar na agregação de renda para a família, as participantes evoluíram muito, pois o conhecimento adquirido é compartilhado com a família.
“O grupo trouxe um grande destaque para a nossa cooperativa. Essa união feminina foi gerando uma energia de evolução, principalmente no café de qualidade. Após vários treinamentos e cursos, elas optaram a trabalhar a qualidade do café. Desde então, muita coisa mudou e os cafés produzidos por mulheres estão ganhando cada vez mais destaque em concursos nacionais de qualidade. O prêmio Fairtrade é que proporciona isso tudo. Todo esse trabalho tem custo, e o valor do prêmio conseguido com a venda das sacas desses cafés é usado para desenvolver todos esses trabalhos”, enfatizou.
Em Minas Gerais, a Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (COOPFAM), que fica no município se Poço Fundo, também possui um café exclusivo feito por mulheres.
Uma das cafeicultoras da cooperativa é Maria Aparecida de Paiva Borges, 67. “Sempre participávamos das reuniões na cooperativa com os maridos, e não podíamos votar e participar das decisões. Foi quando decidimos formar nosso grupo de mulheres. Hoje temos o nosso café produzido pelas mulheres. Aprendemos muito nesse tempo em nossos encontros. As mulheres mais novas estão fazendo muito café de qualidade”, afirmou.
TRADIÇÃO – Em Santana da Vargem, Minas Gerais, a Cooperativa dos Pequenos Agricultores de Santana da Vargem (COOPASV) também apoia as mulheres cafeicultoras. A cooperada Tereza Vitalino de Nazaré, 62, tem uma ligação de infância com a cafeicultura e, junto ao marido, conduzem as lavouras na propriedade, que eles conquistaram com muito trabalho.
“Desde que eu me entendo por gente trabalho na cafeicultura. Meu pai era meeiro e ele nos levava para as lavouras. Naquela época, era muito difícil, mas hoje tudo é diferente. A cooperativa oferece muitos cursos e isso nos ajuda muito. A participação feminina tem aumentado muito nos últimos anos e temos até um concurso de qualidade de café exclusivo para mulheres”, contou.
A gerente geral da COOPASV, Beatriz de Souza Pereira, explicou que o projeto “De todas as Marias”, voltado para o público feminino, valoriza o trabalho das mulheres, e contribui para a constante melhoria da qualidade do café, já que as informações repassadas às cooperadas são fundamentais para a evolução da cafeicultura.
“O De todas as Marias surgiu como um aconchego. Hoje, a produtora faz um café para todas as mulheres do mundo. Eu me sinto muito feliz em fazer parte de uma cooperativa em que a mulher é valorizada. Ela tem seu papel de liderança, e ainda é empreendedora. Essas mulheres estão à frente dos seus negócios ou auxiliando seus maridos. É um trabalho de reconhecimento”, relatou.
INCENTIVO – Na Cooperativa Agropecuária dos Produtores Orgânicos de Nova Resende e Região (COOPERVITAE), em Nova Resende, Minas Gerais, as mulheres têm se destacado em concursos de qualidade de cafés Fairtrade. Em 2020, cooperados da COOPERVITAE conquistaram três premiações no Torneio do Melhor Café Fairtrade do Brasil– Golden Cup. Os grãos produzidos por Taís Silva Fernandes Miranda, 32, foram eleitos os melhores na categoria “Arábica Microlotes”.
“A COOPERVITAE divulgou o concurso Fairtrade e enviamos a nossa amostra. Não esperamos a primeira colocação, mas ficamos muito felizes e gratos pelo apoio da cooperativa. A responsabilidade de ter o melhor café Fairtrade do Brasil é muito grande. A cada ano buscamos melhorar nossos cafés, sempre inovando, como a utilização do terreiro suspenso e, agora, testando cafés fermentados”, revelou.
Female coffee participation: The strength of women taken from the field to coffee cups all over the world
Over the last few years, women have been occupying prominent roles in the Brazilian agricultural production. According to the latest Agricultural Census conducted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), more than 40,000 Brazilian agricultural establishments with coffee production are run by women. However, this number is equivalent to only 13.2% of the 304,500 existing establishments.
Besides these female owners, there are also those who are in the condition of spouse in co-direction, being 32,400 women in establishments with Arabica coffee and 15,700 women in establishments with robust coffee. So, it can be affirmed that there is a female task force of more than 88,000 women directing and co-directing coffee establishments throughout Brazil.
And they have also been standing out, heading up important projects in cooperatives and associations of coffee growers, such as Daiana Pinto Souza Carrari, 30 years old, a cooperative member of the Southern State of Espírito Santo (CAFESUL), which is located in Muqui, in the south of Espírito Santo. She took the 3rd prize in the 5th Tournament of the Best Fairtrade Coffee in Brazil – Golden Cup, in the Robust level.
“Special coffee for me represents quality of life. Special coffee changes everything. Coffee is a food, it is a fruit, and you have to treat it with all the affection and with all the love”, she said. Daiane says that in 2018 her family began participating in the quality competitions of the cooperative, and that led she and her mother-in-law to become part of the group of women, which currently has its own brand of coffee, the “Women’s Coffee”.
“That year, we won the first prize in the quality contest, and that was a motivation. Through the group, we take part in courses, learn a lot about coffee growing and improve more and more. We´ve started with 15 women, and nowadays there are over 25. What our family hasn´t learned yet, they´ve made it with the support of the cooperative”, she said.
Natércia Bueno Vencioneck Rodrigues the administrative manager and human development agent at CAFESUL, explains the goal of the creation – in 2014 – of the women’s group. In addition to encouraging the aggregation of income for the family, the participants have improved a lot, because the knowledge acquired is shared with the family.
“The women’s group brought a great recognition to our cooperative. This female joininghas brought upa power of evolution, especially in quality coffee. After several training programs and courses, they chose to work on the quality of the coffee. Since then, lots of things have changed and women-produced coffees are gaining more and more prominence in quality national competitions. The FAIRTRADE award is what makes it happens. All this effort involves investment, and the value of the prize achieved with the sale of these coffee bags is used to develop all these tasks”, she highlighted.
In Minas Gerais, the Cooperative of Family Farmers of Poço Fundo e the Region (COOPFAM) also have produced an exclusive women-produced coffee.
One of the coffee growers of the cooperative is Maria Aparecida de Paiva Borges, 67. “We´ve always taken part in the meetings at the cooperative with our husbands. We could not vote or participate in the decision making. That’s when we decided to begin our women’s group. Nowadays our coffee is produced by women. We´ve learned a lot during this time in our meetings. Younger women have been producing a lot of quality coffee,” she said.
TRADITION – In Santana da Vargem, Minas Gerais, the Cooperative of Small Farmers of Santana da Vargem (COOPASV) also supports women coffee growers. The cooperative member Tereza Vitalino de Nazaré, 62, has a connection with coffee since childhood and, with her husband, manages the crops on their property, which they have conquered with a lot of hard work.
“As long as I´ve known myself, I have worked with coffee production. My father was a hired-hand and he used to take us to the fields. Back then, it was very difficult, but nowadays everything is different. The cooperative offers many courses and it helps us a lot. Female participation has increased a lot in the past few years and we also have a coffee quality contest exclusively for women,” she said.
COOPASV’s general manager, Beatriz de Souza Pereira, explained that the project “All the Marys”, targeted at the female public, highlights women’s work, and contributes to the constant improvement of coffee quality, since the information passed on to the cooperative members is fundamental to the evolution of coffee.
“The project ‘All the Marys’ arose from a sense of coziness. Nowadays, the producer makes a coffee for all the women in the world. I feel very glad to be part of a cooperative in which women are valued. Theyhave their leadership role, and she’s also an entrepreneur. These women are running their own businesses or helping out their husbands. It’s a job of recognition,” she said.
INCENTIVE – In the Agricultural Cooperative of Organic Producers of Nova Resende and Region (COOPERVITAE), in Nova Resende, Minas Gerais, women have excelled in Fairtrade coffee quality contests. In 2020, COOPERVITAE members won three awards at the Best FAIRTRADE Coffee Tournament in Brazil – Golden Cup. The grains produced by Taís Silva Fernandes Miranda, 32, were voted the best in the category “Arabica “Micro lots”.
“COOPERVITAE has announced the Fairtrade contest and we´ve sent our sample. We did not expect the first prize, but we are very glad and grateful for the support of the cooperative. The responsibility of having the best Fairtrade coffee in Brazil is amazing. Every year we look for the improvement of our coffees, by always innovating, such as the use of suspended work areas and nowadays, testing fermented coffees”, she let it out.